Depois de passar cinco anos operando no vermelho e de queimar cercade R$ 600 milhões de suas reservas, a PUC Rio, uma das mais prestigiosas Universidade do Brasil, iniciou em 2022 um choque de gestão que já lhe permitiu reforçar seus cofres em mais de 70 milhões, apesar da crescente perda de receita.
O fim do déficit na PUC é um "milagre" atribuído ao padre Anderson Pedroso, um jesuíta de 50 anos com formação em filosofia, design e história da arte que se tornou Reitor da instituição em 2022 - período em que as reservas da Universidade saltaram de R$ 220 milhões para quase R# 292 milhões.
"Desde 2015, a PUC Rio perdeu cerca de 30% dos(as) alunos(as), e a partir de 2017, a renda obtida com as mensalidades deixou de cobrir os gastos da Universidade", diz padre Anderson, como é conhecido, frisando que essa dispersão de alunos(as) ocorreu em outras Universidades tradicionais. No auge, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro chegou a ter por volta de 13 mil alunos. Hoje, conta com 8,5 mil.
Mas o que a PUC Rio fez de tão significativo para mudar aquele cenário deficitário? Em primeiro lugar, a Universidade procurou reduzir os gastos. Padre Anderson contou que, ao assumir a Reitoria, viu 200 profissionais com cartão de crédito em mãos. Em meio a enorme volume de gastos com pesquisa, diversas despesas fugiam do controle.
"Certa vez, chegou uma conta de R$ 8 milhões de uma pesquisa feita por um Professor", conta. "Reduzimos o número de cartões [de crédito] para 17 e passamos a usar cartões pré-pagos, que já vêm com um limite pré-definido." O padre lembra ainda que 70% dos departamentos da PUC Rio eram deficitários quando ele assumiu. Hoje, só ao redor de um terço deles ainda gasta mais do que arrecada. Alguns cursos, ele diz, "apesar de terem formado profissionais importantes e ter medalhas, não têm dinheiro e não pagam nem a conta da luz", disse. A mudança na gestão, no entanto, não passa pelo fechamento de cursos deficiários. "Não podemos cair na narrativa de que olhar para a parte financeira e o fluxo de caixa significa acabar com a excelência da Universidade."
Padre Anderson decidiu contratar uma consultoria externa para modernizar o gerenciamento da instituição. Como resultado, a PUC Rio criou um departamento de controladoria que deu transparência e fixou parâmetros para os gastos. Outra área implantada nesse choque de gestão foi o compliance, que fiscaliza atividades dentro da instituição para evitar conflitos de interesses, denúncias de assédio e desvios financeiros, por exemplo. Somente a troca na administração do plano de saúde rendeu uma economia de R$ 4 milhões por ano à Universidade.
"Com isso, conseguimos aumentar o subsídio dos planos de saúde aos profissionais de menores salários, que agora contribuem com algo ao redor de R$ 10 por mês e antes não tinha acesso ao plano", afirmou o Reitor.
Outro ponto atacado pela nova gestão foi a distribuição sem critério de bolsas de estudo. Antes, afirmou o padre, as subvenções nas mensalidades eram oferecidas até a estudantes que podiam pagá-las. Com consideráveis variações entre áreas como Letras e Engenharia, passando por Direito, Economia e Psicologia, os cursos na PUC Rio custam, em média, R$ 5.000 mensais.
"Chegamos a ter 40% de alunos com bolsa integral ou quase integral", afirmou o Reitor. "Para corrigir isso, foi implementado o Sistema Open Finance para avaliar a real necessidade dos alunos". O Reitor faz uma analogia com o sistema criado pelo Banco Central em que clientes abrem suas contas ao mercado financeiro, compartilhando informações, em busca de taxas mais atrativas. O resultado não só melhorou a receita como permitiu que mais alunos tivessem acesso a mensalidades com preços reduzidos.
A busca por atrair mais alunos passou pela decisão de implantar cursos tradicionais que estavam ausentes na PUC Rio, como Medicina e Farmácia, mas também de carreiras ligadas a inovação, como IA (Inteligência Artificial) e Sustentabilidade.
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Fonte: UOL